Friday, July 15, 2016

Esteja onde estiver, seja só.



Vive-se com impressão que estamos acompanhados, que há outros com a gente no mesmo barco, indo para algum lugar. Mas estamos ilhados em nós mesmos, vendo nossas próprias flores. É preciso aprender a ser só, não esperar que ninguém dê sentido a algo que não tem sentido: a sua estrada você percorre sozinho.  As decepções nascem de nossa vontade de querer dividir nosso fardo com o outro. Mas para o outro esse fardo nem existe, ele divide apenas a ilusão do alívio. É um ato de bem-querer (e nem sempre), mas ainda assim é uma ilusão. Eu misteriosamente estava perdendo a capacidade de me ver em minha própria solidão, talvez deixei de ficar atento à essa ilusão de companheirismo que as relações imprimem erroneamente. Porém ao percorrer os olhos na minha própria realidade, vi que minha alma sabia de toda a verdade o tempo inteiro.  Pensamos que é egoísmo do outro, mas é egoísmo nosso querer que alguém esteja lhe acompanhando em uma viagem que você deve percorrer por si. Acredito que é a raiz de toda a frustração e o mal do amor romântico se debruçar nessa ilusão como se fosse algo verdadeiro e imprescindível ao ser humano, que é uma caverna cheia de lugares inexploráveis. No final cada um cuida do seu caminho, mesmo morrendo de medo da solidão. Acho que é por isso que alguns matem o outro preso a essa imagem ilusória que “está lá”. Dentro de nós há espaço para o mundo inteiro, mas também sempre a estrada que devemos percorrer sozinhos, sem contar que haverá alguém com você para dividir aquilo que não pode ser divido. Cuidemos de nós mesmos com o todo o amor que nós temos.

 Fernando Pessoa disse que a solidão é uma condição inevitável do homem.

Solidão


Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.

E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.

Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.




Eu: 7,7 (não nos esqueçamos da solidão de nós mesmos).
Mundo: 3,0 (Inventando cores que na verdade não são suas).

Friday, June 21, 2013

Naquele Reencontro

Não pensava que seria assim, nem que falaríamos sobre algo que não fosse o passado.
Não pensava mesmo. Carreguei aqueles embrulhos com o ar dos que têm Mal de Parkinson, estômago sofrido esse meu. Cabeça mais ainda... Mas tudo bem, os idos passados são Anos Dourados.


Não sei se eu ainda
Te esqueço de fato
No nosso retrato
Pareço tão linda
Te ligo ofegante
E digo confusões no gravador
É desconcertante
Rever o grande amor
Meus olhos molhados
Insanos, dezembros
Mas quando me lembro
São anos dourados
Ainda te quero
Bolero, nossos versos são banais
Mas como eu espero
Teus beijos nunca mais
Teus beijos nunca mais

Eu: 9,0 (Se não fosse tudo que sinto e não sinto...)
Mundo: 10,0 ( Sempre recomeçando)

Saturday, May 11, 2013

Que Não Posso Esquecer da Energia Que Move o Mundo

Todas as coisas são energia.
Eu fico soletrando essa palavra - E-n-e-r-g-i-a.
Desejando que sempre ela esteja em mim, trocando informações sutis com o que acontece fora de minha consciência. E quando duvido, mudo o fluxo, coisas acontecem. Sempre acontecem, dai sei que tudo é muito, muito mais amplo do que realmente achamos ou sabemos.
E com toda essa amplidão, fica a pergunta: por que nos limitamos a sofrer por coisas tão pequenas quando existem possibilidades maravilhosamente novas escondidas nessa sutileza de energia, prontas pra provar que estamos mais errados do que nunca?
Viver é bom demais e tudo que nos cerca tem o propósito de nos provar isso.
E se de manhã às vezes você acorda se sentindo uma droga, vem a tarde e outra energia toma lugar, revelando a delicadeza quase invisível de miríades de coisas que ainda podem acontecer.
Então a gente ri do futuro.

Devia ter amado mais
Ter chorado mais
Ter visto o sol nascer
Devia ter arriscado mais
E até errado mais
Ter feito o que eu queria fazer...


Queria ter aceitado
As pessoas como elas são
Cada um sabe a alegria
E a dor que traz no coração...


O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar distraído
O acaso vai me proteger
Enquanto eu andar...


Devia ter complicado menos
Trabalhado menos
Ter visto o sol se pôr

Devia ter me importado menos
Com problemas pequenos
Ter morrido de amor...

Queria ter aceitado
A vida como ela é
A cada um cabe alegrias
E a tristeza que vier...


Epitáfio - Titãs

Eu: 10,0 (aberto às possibilidades que a vida generosamente oferece)
Mundo: 10,0 (girando como um divertido carrossel. E eu aproveitando a viagem)





Friday, May 10, 2013

Em Quando Tudo Mais Parece Uma Indireta.

Ontem sonhei que você estava lá do outro lado da rua, e que você era um chuchu cozido, muito macio. E era de lá que você acenava, todo vestido de verde, engomado, parecendo um pastor. Tu estavas muito exigente, com cara de quem tinha altas expectativas dos próximos capítulos, e olhe que a novela nem tinha começado. Neste sonho você era um chuchu e aparecia cheio de medos, arrependimentos e culpas, disfarçados de gentileza e elogio. Os passantes faziam ares de reprovação, como se soubessem de tudo. Mas talvez o chuchu estivesse ferido, e com medo da solidão.  Porra de sonho doido. Ou doído, porque ele doeu a noite inteira. Era tarde na rua, chovendo, o chuchu acenava do outro lado, eu passava distraído olhando as vitrines, veja só. Eu ainda não sei porque atravessei pra ir falar com você, um chuchu vestido de verde, cozido e macio. A rua estava uma bagunça, como são típicos em sonhos. Nus, no asfalto,  "poréns" disfarçados de coincidências - terminei sujando minhas botas novas, que por sinal eram lindas e elegantes, feitas para pisar em terras de sonho de qualquer natureza, botas 4X4. As dúvidas, saiam como ratos dos boeiros e do céu a água da chuva cheirava a carência e a outros bichos selvagens e egoístas, dos quais eu também tinha uma meia dúzia guardados debaixo de sete capas de chuva. Lá ia eu, botas molhadas desviando de carros, atravessando a rua pra me encontrar com um chuchu. Daí uma droga de ônibus me atropelou. Ví de relance que era um ônibus grande, destes que não gostam de ruas apertadas, mas de avenidas largas e bem iluminadas. No letreiro lia-se " Centro - Realidade (passando pelo Engano)". Terminei desistindo de ir até o chuchu pra pegar aquele ônibus dos diabos. O chuchu que me apareça menos espalhafatoso em outro sonho. Ah, e em dia de semana, porque sábado e domingo eu não sonho, eu vivo - de preferência escutando uma música de Chico Buarque.

Não Sonho Mais

Hoje eu sonhei contigo,
Tanta desdita! Amor, nem te digo
Tanto castigo que eu tava aflita de te contar.

Foi um sonho medonho
Desses que, às vezes, a gente sonha
E baba na fronha e se urina toda e quer sufocar.

Meu amor, vi chegando
Um trêm de candango
Formando um bando,
Mas que era um bando
De orangotango pra te pegar.

Vinha nego humilhado,
Vinha morto-vivo, vinha flagelado.
De tudo que é lado
Vinha um bom motivo pra te esfolar.

Quanto mais tu corria
Mais tu ficava, mais atolava,
Mais te sujava. Amor, tu fedia,
Empesteava o ar.

Tu que foi tão valente
Chorou pra gente. Pediu piedade
E, olha que maldade,
Me deu vontade de gargalhar.

Ao pé da ribanceira acabou-se a liça
E escarrei-te inteira a tua carniça
E tinha justiça nesse escarrar.

Te "rasgamo" a carcaça
Descendo a ripa. "Viramo" as tripas,
Comendo os "ovo", ai!,
E aquele povo pôs-se a cantar.

Foi um sonho medonho,
Desses que, às vezes,
A gente sonha e baba na fronha
E se urina toda e já não tem paz.

Pois eu sonhei contigo e caí da cama.
Ai, amor, não briga! Ai, não me castiga!
Ai, diz que me ama e eu não sonho mais!

Eu: 8,0 (Reciclando pesadelos)
Mundo: 5,0 (Um sonho falsificado de déjavù)

Na Pergunta Acesa


Queria que você fosse uma resposta, não uma pergunta.
E que fosse mais simples, que fosse você que pudesse respondê-la, não eu.
Porque a pergunta que queima não é seus cabelos negros, nem sua pele suave e branca que vão responder.
E sim alguém em mim, que alheio a qualquer tipo de paixão, é alheio também a respostas.
Daí quando eu tiver essa resposta, eu saio dessa janela e vou dar um rolê com os Novos Baianos.

"Não se assuste pessoa
Se eu lhe disser que a vida é boa
Não se assuste pessoa
Se eu lhe disser que a vida é boa
Enquanto eles se batem
Dê um rolê e você vai ouvir
Apenas quem já dizia
Eu não tenho nada
antes de você ser eu sou
Eu sou, eu sou, eu sou amor
Da cabeça aos pés
Eu sou, eu sou, eu sou amor
Da cabeça aos pés
E só tô beijando o rosto de quem dá valor
Pra quem vale mais o gosto do que cem mil réis
Eu sou, eu sou, eu sou amor
Da cabeça aos pés
Eu sou, eu sou, eu sou amor
Da cabeça aos pés"




Eu: 7,0 (Me recuperando, aos pouquinhos, de um estado chamado Lucidez)
Mundo: 7,0 (Não-descoberto, envolto em nevoeiro)



Thursday, May 09, 2013

Nas Coisas Boas Que Não Vieram



Coisas ruins acontecem. Às vezes aconteceram coisas muito boas antes, e daí você não se importa tanto com a chegada das ruins. Que seja algo de compensação, né. Nem trudo são flores e por aí vai. Mas tem vezes que as coisas não-boas vêm em bando e lhe tomam de assalto.

Mesmo de naturezas diferentes, elas se juntam lá no fundo e começam a doer em uníssono.

Elas têm nomes diferentes, vêm de lugares diferentes e distantes, mas se indentificam entre si - comem de sua luz e de sua verdade, esvaziando aquilo que você guardou com tanto empenho, sua esperança.
Não são tolos os que desanimam, nem os que desistem. Apenas estão cansados e não sabem pra onde ir, pois todo caminho é errado.

Coisas ruins acontecem, mas de vez em quando a balança quebra. Não há coisas boas pra comemorar e renovar o suspiro leve que temos, quando dizemos a nós mesmos "vai passar".
Mesmo com maturidade, não é fácil manter-se inteiro, otimista. Mesmo quando ouvimos, lemos, nos repetimos que as coisas ruins acontecem assim como as coisas boas e que podemos, no fim das contas, ter vivido alegremente.


Eu Podia Ter Vivido Alegremente

(Mihály Ladányi)

Eu podia ter vivdo alegremente
porque para isso tinha aptidão,
tinha a noite serena
e passava horas inteiras sem chorar.
Agora as noites lançam-me um nó corredio
e as minhas artérias apertam-me a garganta.

Se sou amargo, quem me faz amargo?
Vivo a minha vida,
tenho sempre pão e amante
e o vinho nunca escasseia no meu copo.

Já não estou só e abandonado, como os que gesticulam e suam,
os das palmas das mãos feitas de lata,
os que dormem em colchões húmidos.
Quando sigo pelas estradas
e numa taberna - onde se juntam camponeses -
me abeiro do balcão,
não há leis que digam
que para sempre ali devo ficar
ou chegando a manhã
de novo devo tomar a direcção da estrada.

Podia ter vivido alegremente
mas os pássaros aninham as suas crias
nas palmas da minhas mãos
e alguém atou aos meus pés
os caminhos.
Podia ter vivido alegremente
mas agora as casas constroem-se em mim
e retumbam em mim na sua destruição.
Sou de alguma coisa o instrumento,
sinto sempre sobre mim o grande olho ardente
e vou por aqui e por ali, à deriva, embora
pudesse ter vivido alegremente.

Eu: 7,0 (Lidando com meus monstros)
Mundo: 4,0 (Puta-Que-Pariu...)




Wednesday, May 08, 2013

Na Estrada Que Nunca Termina


Faz muito tempo que não escrevo aqui. Acho que é de 2011 minha última postagem. Não sei porque abandonei um espaço tão meu, que por muito tempo serviu pra que eu decantasse meus fenômemos pessoais. Hoje, dia 08 de maio de 2013 - quase dois anos depois da última postagem, ainda vivo todos os dilemas do passado. Isso me faz pensar que dilemas pessoais sempre vão existir, eles não têm muito a ver com experiência. Talvez assim eu queira acreditar que não sou um idiota parado no tempo. Por falar em tempo, sou aquele mesmo cara de 2011, se olhar de pertinho  - querendo amar, ser amado e escolher alguém pra descansar à sombra. Mas também um cara que vive muito bem sozinho, obrigado. Me sinto em meio às feras, ao egoísmo e à futilidade súbita. Mas tipo, também sou assim em partes de minha vida, e esses ecos de individualismo selvagem não passam de sonhos que insistem em ser realizados. As pessoas querem ser felizes, querem escolher com quem serão felizes, e quem é que vai condenar? Eu também quero escolher, e viver essa escolha, portanto ninguém é mau de verdade, somos na verdade meio tristes. De vez em quando me deparo com um apaixonado - aquele que se apaixonou sem muito pestanejar - e como eles brilham, os apaixonados! São lindos em sua dança desconexa. Eu gosto de ficar perto dos apaixonados, não corro. Eles me dão esperança em vez de inveja. Quando vejo alguém amar genuinamente e ser correspondido sem truques ou guerras, eu desejo ser aquela pessoa, como alguém de deseja ser uma estrela no céu ou outra coisa impossível. De vez em quando acho um amor tranquilo e me sinto tão pequeno. Talvez pela falta de fé no amor, talvez pela sofreguidão que me agarro às vezes à solidão. Em contrapartida, vivo a sonhar com este amor, como ele vai chegar e me arrebatar pra sempre, e ficarei contemplando sua eficácia em me fazer amante pensando "porra, porque demorou tanto...". Se eu tivesse paciência. Se eu não me entregasse à postura de vítima. Se eu buscasse ser feliz com outras coisas que não começassem por dois. Se, se, se. Este mês está me chutando. ele começou com algumas decepções, com prejuízos financeiros, com traumas. Mas ele vai acabar e essa fase também. Eu sou meio forte. Achava que era mais, mas  oque sou agora já dá pro gasto. Acredito que quando as coisas ruins passam, a gente fica mais esperto, calejado. Tenho aprendido que sou eu que mereço atenção, mereço análise de mim mesmo. O resto se mostra com o tempo. Vamos lá que 2013 está quase na metade. E eu que abandonei este espaço por tanto tempo, vou utilizá-lo com mais frequência. Sou um leitor que adora ler minhas próprias histórias. E qeu interessante era minha vida, já que eu a fazia tão melancólica... Ainda bem que estamos em 2013 e quem escreve agora não é o mesmo que escreveu em 2010, 2011, 2008. E amanhã quando ler isso, já serei outro. Ponto pra essa estrada, que quanto mais a gente caminha, deixamos mais da gente pra trás do que a própria paisagem que se vai. Eu comecei essse texto dizendo que sou o mesmo cara de 2011. Mentira, sou muitos outros que ainda virão.
Agora Só Falta Você - Rita Lee

Um belo dia resolvi mudar
E fazer tudo o que eu queria fazer
Me libertei daquela vida vulgar
Que eu levava estando junto a você

E em tudo que eu faço
Existe um porquê

Eu sei que eu nasci
Sei que eu nasci pra saber

E fui andando sem pensar em voltar
E sem ligar pro que me aconteceu
Um belo dia vou lhe telefonar
Pra lhe dizer que aquele sonho cresceu

No ar que eu respiro
Eu sinto prazer

De ser quem eu sou
De estar onde estou

Agora só falta você


 
Eu:8,0 (buscando respostas, e quem procura acha)
Mundo: 5,0 (muito mau humorado por meu gosto)




Wednesday, August 03, 2011

No Encantamento Perdido


Tenho que tornar pequeno, tenho que tornar tão miúdo, que não mais sinta falta ou faça sofrer. Tenho que banalizar as lembranças e os estados de céu onde já estive, pois não existe mais céu e sim a queda. Não quero mais me lembrar do alto nem do frio, da viagem vertiginosa de três horas, quero que morra estas lembranças. Não quero lembrar mais da surpresa, quero que aquela surpresa morra. Não quero mias sentir pela falta das conversas com vontade, não quero. Nem das declarações superficiais que antes pareciam tão profundas, eu não quero. Eu quero ser simples e só outra vez, pois a falta do que não se tem é bem mais fácil de lidar do que a falta do que se teve e lhe foi tirado. Nem quero mais me lembrar deste encantamento, agora perdido.  Quero que se perca junto com ele, todas as lembranças e o sentido que ele tem agora, tão amargo. Era tão cedo pra tudo se transformar em desinteresse. É tão tarde agora, eu me sinto tarde. Mas talvez ainda haja tempo pra dizer – eu não quero. Talvez morrer como um pássaro, de uma flor na boca, como cantou Cecília Meireles:

Pássaro

Aquilo que ontem cantava
já não canta.
Morreu de uma flor na boca:
não do espinho na garganta.
Ele amava a água sem sede,
e, em verdade,
tendo asas, fitava o tempo,
livre de necessidade.
Não foi desejo ou imprudência:
não foi nada.
E o dia toca em silêncio
a desventura causada.

 Eu: 3,5 (Sozinho mesmo acompanhado). 
Mundo: 5,0 (Bem maior do que posso lidar...)