Vive-se com impressão que estamos
acompanhados, que há outros com a gente no mesmo barco, indo para algum lugar. Mas
estamos ilhados em nós mesmos, vendo nossas próprias flores. É preciso aprender
a ser só, não esperar que ninguém dê sentido a algo que não tem sentido: a sua
estrada você percorre sozinho. As decepções
nascem de nossa vontade de querer dividir nosso fardo com o outro. Mas para o
outro esse fardo nem existe, ele divide apenas a ilusão do alívio. É um ato de
bem-querer (e nem sempre), mas ainda assim é uma ilusão. Eu misteriosamente
estava perdendo a capacidade de me ver em minha própria solidão, talvez deixei
de ficar atento à essa ilusão de companheirismo que as relações imprimem
erroneamente. Porém ao percorrer os olhos na minha própria realidade, vi que
minha alma sabia de toda a verdade o tempo inteiro. Pensamos que é egoísmo do outro, mas é egoísmo
nosso querer que alguém esteja lhe acompanhando em uma viagem que você deve
percorrer por si. Acredito que é a raiz de toda a frustração e o mal do amor
romântico se debruçar nessa ilusão como se fosse algo verdadeiro e imprescindível
ao ser humano, que é uma caverna cheia de lugares inexploráveis. No final cada
um cuida do seu caminho, mesmo morrendo de medo da solidão. Acho que é por isso
que alguns matem o outro preso a essa imagem ilusória que “está lá”. Dentro de
nós há espaço para o mundo inteiro, mas também sempre a estrada que devemos
percorrer sozinhos, sem contar que haverá alguém com você para dividir aquilo que
não pode ser divido. Cuidemos de nós mesmos com o todo o amor que nós temos.
Fernando Pessoa disse que a solidão é uma condição inevitável do homem.
Solidão
Solidão
Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por coisa esquecida.
Eu: 7,7 (não nos esqueçamos da solidão de nós mesmos).
Mundo: 3,0 (Inventando cores que na verdade não são
suas).